Parecia muito simples continuar olhando aquela cena e ser indiferente. Realmente parecia para o meu cérebro, mas naquele momento consumavam-se os sentimentos em mim. Estes me percorriam com uma veemência até então desconhecida aos meus sentidos, fazendo-me frágil. Eu sempre detestei me sentir frágil, dependente. Para que eu dependeria de alguém a não ser Deus? Apenas a fim de "permitir possibilidades de sofrer com os erros ou ausência deste". Nunca importara as incontáveis leituras dessa frase, pois eu sabia que era constituída por um coração que recusa qualquer espécie de vitória da razão. No entanto, a alma é equilíbrio.
Retirei-me discretamente dali, isolei-me do restante da sala, escondi a cabeça com as mãos e chorei. Deixei o abraço do casal amante passar por minha mente, como slides repetidos, musicado por "pra você guardei o amor", de Nando Reis. Tudo estava estranhamente tangível. Por quê? Não sei. Então, abri a minha agenda na página concernente aos dias 20/21 de Março, li as encantadoras frases direcionadas a mim por o Anjo, e as lágrimas caíram inevitáveis à circunstância. Desconhecia a intensidade com que a paixão vinha sendo nutrida em minhas veias, em meu coração. Fechei a agenda e deixei que meus pensamentos flutuassem, mostrando o quão eu estava envolvida.
Por amar meus amigos, fui suscetível à demonstração concreta de que eles não podiam se separar; o amor era forte. Mas não descobri o motivo de me ver em um abraço semelhante com ele, o Anjo de lindos olhos verdes. Foi a primeira vez que necessitei senti-lo, aflorar o tato, audição, visão e olfato a partir do que viesse dele. A timidez havia sido inibida por o sonho, pela paixão. Imaginei-o com naturalidade e sorri, concluindo que deveras gostava dele. Para alguns, isso seria idiotice; contudo, foi o alívio de mim mesma. A distância era concomitante à presença de meu corpo naquele ambiente: minha mente viajava ao encontro de teu sorriso, de teus olhos, de ti, Anjo apaixonante.
Não sei mais por quais dimensões voa esse Anjo. O tempo mudou, mais uma vez, meus sentimentos. Sou grata pelas mudanças. Sou grata, mais ainda, pelo orgulho que sinto de minhas lembranças.
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