19 de novembro de 2011

Devia ser apenas uma criança

Eu não sei como iniciar esta postagem. Quando penso na cena que desejo descrever, ocorre-me embaraçamento - típico de quem tem muito a expressar. Então, surge um esforço. De qualquer forma, é apenas meu blog. Sem perfeições ou prêmios; apenas meus sentimentos e percepções.

[...]

Devia ser apenas uma criança pobre no ônibus: sem sandálias, sem camisa, sem higiene, aos braços de uma mãe que pedia dinheiro através de pequenos bilhetes digitados. Mas ela  [a criança] tinha olhos de cigano, se assim posso dizer. Como não consegui decodificar as emoções que uma criança - tão transparente - estava a sentir naquele momento? Recuso-me a crer que ela era fria por dentro. Era apenas uma criança. Quando sua mãe a soltou no ônibus, pôs-se a chorar. Choro sem consolo, daquele de comover um coração mais sensível  (feito o meu, naquele dia). E quão incansável era aquela mulher, com um filho de aproximadamente quatro anos aos braços, recebendo moedinhas e os papéis de pedido  e guardando-os numa bolsa sem segurança. Quando percebi, a criança havia atraído olhares e sorrisos de muitos passageiros. Vi pessoas perguntando à mãe dela - que, na verdade, era um garoto - informações a seu respeito. Mas o garotinho não se importava com as perguntas sobre ele, tampouco com os elogios e sorrisos; queria apenas estar confortável no colo da mulher que estava segurando-o. Essa sequência de atos me arrancou uns sorrisos bem bobos.
Não sabia bem explicar, mas um sentimento muito forte me envolveu e perdurou até eu perder meu olhar do garotinho. Fechei os olhos, por diversas vezes, e disse para mim "como sou pequena". Em seguida, a vontade que me acometeu foi de cuidar daquele menino. E meus pensamentos flutuaram mundo afora, parando nas crianças da África e da Ásia. Por vezes, pessoas com boas condições financeiras adotam uma ou duas crianças e acham que salvaram o mundo. Conquanto, e as outras crianças que lá ficaram? Será que elas não precisavam, também, ser adotadas e viver em melhores condições? E os familiares delas não têm direito à vida digna? Amaria uma resposta advinda do comitê da ONU. Sim, sim, sim. Todos sabem que a resposta é afirmativa. O problema é que poucos têm muito e muitos têm pouco.
Voltando ao garotinho, marquei-o na minha memória. A sua mãe, aparentemente fatigada de se dispor à boa vontade das pessoas que quisessem ajudá-la, também guardei como um dos rostos de minhas lembranças. Até agora não entendo o porquê de todo o ocorrido, mas eu sei que uma vontade de ajudar e amar o próximo assinalou um gráfico crescente em mim. Mais especificamente, pensei num início: ser doadora de medula óssea o mais rápido possível. Sou tão pequena, mas posso fazer ações para diminuir as diferenças. Posso até cogitar uma utopia, mas é bom não esquecer que a parte que pede é sempre maior do que a que oferecemos como ajuda. Basta recordar as crianças: deveriam ser apenas crianças, mas incitam sentimentos grandiosos por a moral que possuem.

2 de novembro de 2011

E quem dirá?

E quem dirá que é tardio
Para recomeçar a solidão
Acompanhada do frio
Envolvido na razão. (?)

E quem dirá que é cedo
Para aquecer uma mente
Diante do sentimental medo
De encarar outrem convergente. (?)

E quem dirá 
O que deve ser dito?
E quem fará
O que foi cometido?

E quem, a não ser eu?
E quem, além de você?
E quem, além de não mais nós?
Não mais nós.

Porque já seguimos
Com mãos entrelaçadas.
Mas paramos quando convimos
Que nossas estradas estavam separadas.

Sempre. Quando ocorre, o físico chegou ao fim. E o fim, cíclico como é, reinicia-se nas experiências saudosas que se relacionarão benevolentes com a memória. Somente com a memória. 
Agora sigamos, pois devemos vislumbrar à frente.