15 de junho de 2011

Irmãos

Quando você nasce, "espera" ter uma companhia mais cúmplice e bem menos séria do que a dos pais. A quem pertence essas características? Nem vou responder, uma vez que o título dessa postagem é demasiado sugestivo. Eu tenho dois irmãos por parte de mamis: Anny Caroline e Weslley Andrews, prazer. Por parte paterna - ao que me consta -, sou filha única, sobrinha única, neta única... Admito que tenho metade da vida bem egoísta. Ah, devo também registrar aqui que sou a caçula, a que menos apanhou, mais estudou, menos trabalhou, mais sofreu com o poder dos mais velhos e mais brigou - ou não. Se fosse a Polyana aqui, o verbo seria 'arengar'.
Minha irmã SEMPRE foi responsável, a "mãezona" da casa, pois é 10 anos mais velha, o que me obrigava a pouco lhe tirar a paciência. Quase uma monotonia entre nós:

- Quéroz, você vai aonde?
- A nenhum lugar.
- E por que você tomou banho?
- Não sou suja como você.

Eu não era suja, vale salientar; só não tomava 12 banhos por dia. Desde pequena, era muito consciente quanto à preservação da água. Salvem o planeta! A água inodora, insípida e incolor vai acabar, se não fecharmos as torneiras ao escovar os dentes e passar detergente na louça, nem os chuveiros ao ensaboar-se! Precisamos tomar menos banhos, mainha! Não lembro, sinceramente, se já fiz greve de banho, mas do jeito que sou... duvido muito (minha mãe teria me enfiado no box do banheiro e me esfregado com uma escova gigante que sempre existiu dentro dele).
Em contrapartida, havia o meu irmão. Costumávamos chamá-lo de Preto, apelido posto pelo pai dele - minha mãe já foi viúva (por 'looongos' cinco meses), só para deixar claro -, apesar de eu ser mais escura do que ele. Escura de melanina, não de sujeira! Lembro que brigávamos por tudo, ATÉ por um pisão proposital no pé do outro. Daí iniciavam as carícias: a correria de praxe, os puxões de cabelo, os tapas nas costas, as rasteiras de capoeira, as viradas de cabeça para baixo - ninguém tem noção de como eu adorava! - e os lindos xingamentos. Cada um tinha o seu apelido conforme um evidente defeito físico ou por uma idiotice que já tivesse feito. Era inevitável vê-lo chegar tarde em casa e gritar "XXXX-XX-XXXXX, vai apanhar!", mas quem apanhava era eu, acusada de iniciar uma briga. Enfim, minha infância foi muito divertida, e não há uma palavra escrita aqui que não tenha me induzido ao riso.
- Oi, tudo bem, Preto?
- O que você quer, lerda?
- Estou sendo EDUCADA, seu abestalhado.
- Problema seu.
PÁF!
- AAAAAAAAAAAAH, MAINHA, SOCORRO!
- Venha cá, XXXXXX-XX-XXXXXXX! Você me paga.

E era assim todos os dias. Mas crescemos: minha irmã se casou e tornou-se um amor maior. Eu sempre fui mais emotiva para com ela, pois recebi conselhos, carões e uns tapas vez por outra, o que me ensinou a ser melosa para com sua pessoa. O meu irmão... deixou de estudar na primeira oportunidade que teve. O cara era mucho loco e eu o admirava por viver tão intensamente: terminou o Ensino Médio, alistou-se na Aeronáutica e divertiu-se a todo momento. Nunca tinha tempo ruim para ele, nem mesmo quando brigava com a namorada, com algum amigo ou não restava o dinheiro certo para suas farras. Certo tempo depois, casou-se também.
Eu passei a ver os meus irmãos com menos frequência, ainda que morássemos relativamente perto. A "distância" me tornou excessivamente carinhosa com os dois. Conquanto, um dia ocorreu o inesperado e meu irmão faleceu. Foram meses de dor imensurável, e não hesito ao dizer que a falta provocada por o seu jeito de ser contagiante, extrovertido e hilário causou uma ferida nos corações de quem o amou. O tempo, por fim, agiu, desvencilhando de foco as saudades dele que persistem.
Hoje, eu continuo a ter dois irmãos. A minha irmã me visita mais diariamente, demonstra mais o seu amor - exceto quando a irrito - e me ajuda a cuidar da nossa mãe. O meu irmão já não tem vindo me ver muito: às vezes, ele aparece nos meus sonhos para dizer que está tudo bem. A única diferença nesta circunstância é que a casa ficou mais vazia, menos barulhenta e não têm os felizes hematomas de outrora. Mesmo assim, ainda é mágico ter irmãos.
(08 de julho de 2010)

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