20 de outubro de 2013

Empresta-me

"Mas, acredite, as palavras estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens e as torceria feito chuva." (A menina que roubava livros)

Empresta-me um olhar
Para o tempo
Em que não se lerá
A decodificação do pensamento.

Com todo o mistério.

Empresta-me um sorriso
- Desconcertante ou não -
No momento passivo
De ser inesperada diversão.

Empresta-me um carinho
Perdido em timidez
No contínuo caminho 
Da minha avidez.

Empresta-me uma conversa
Infatigável pela complexidade
De ser circunstância inversa
Ao silêncio naturalizado.

Empresta-me uma tarde.
Uma noite.
Sem tanto alarde,
A vontade foi-se.

Na antítese, permanece:
Agradável.

Empresta-me o que quiser...
E deixa a devolução
Trazer uma maré
Preenchida de satisfação. 

E de gratidão.

19 de outubro de 2013

Lagarta

Lagarta tanto quer voar,
Mas tanto não faz,
Pois tanto vai amedrontar
O tanto de que é capaz.

Uma ilusória proteção
Para machucar
Quem ousar aflição
Contra seu caminhar.

Ela é fragilizada
Pela metamorfose futura:
Queria ser libertada
Antes de ser madura.

Então, machucam-na.

Cortes.
Edemas.
Hematomas.
Dor existencial.
Uma estrofe de sofrimento.

Lagarta não pensa,
Porque procura amar
Alguém que, na sentença,
Nunca mais vai voltar.
[Nome tocado tão imundo]

Construa o casulo!

Retire-se da realidade
De encarar o motim
Que confere maldade
Ao seu não-fim.

Vi a lagarta chorar
Nas minhas mãos 
Carregadas de ódio
Pelo guarda a se afastar.

Vá, maldito!

A liberdade de uma escoriação 
Volta na justiça
De uma grade escura
Para a  prisão.

Deseje a remissão.

A lagarta será borboleta
Sob um sol de agrado
Em que suas asas
Jamais retornarão ao maltrato. 

6 de outubro de 2013

Ânsia de vida

Na Natureza Selvagem
A briga dos Indignados
Afastamento por Desequilíbrio
O Vendedor de Sonhos

Passou o soluço:
Agoniado em encanto
Veio e retornou abrupto,
Esvaziando (de novo) o canto.

Canto de cigana.

Mas há um sufoco
Deleitando-se nos dias
De quem procura um poço
Com falso fundo de magia.

Como se houvesse facilidade
Para engrenar a imaginação
E resgatar uma realidade
Criada pela inocência do coração.

Como se um caminho
Pudesse ser aberto
Feito um advinho
Com o destino certo.

Como se ao escolher
Fosse feita alheia prece
A fim de merecer
Tudo o que carece.

Não!

Vem, apenas, a verdade
Que estilhaça
E, sem maldade,
A ilusão desgraça.

Pela liberdade
[E por tudo]
Há o preço da troca:
O conforto, sobretudo.

Posso inverter:
Se lhe tiram a casa,
O sol e o vento se podem perceber.
Cortam ou lhe dão asas?

Tantos versos metafóricos
Para única reflexão:
Viver pode ser apoteótico...
Basta sua decisão.
E concepção.

Por que se conformar
Com o tédio?
Uma vida para se enganar
É puro assédio.

Assédio às descobertas.
Assassinato à história.

Dê-nos, Deus, ânsia de vida
Sob uma condição natural,
Em que sorrir seja medida
Para a plenitude existencial.

E o choro intercale.

Porque não prefiro
Dias tristes ou alegres.
Só fiz um pacto amigo
Com o que me enriquece.

O que será riqueza para você?

2 de outubro de 2013

Céu para pipa

Revela-me as incomensuráveis trilhas do seu céu, que ao caçador a enviarei. Caçadores são amigos. Caçadores são eternos.

Tão sacudido o vento
Pela pipa indomável:
Sem receio do tempo,
Permeia o céu acusável.

Brinca com o sol
Trapaceando o raiar
Como se fosse esperta
Para não irradiar.

Ilimitada por liberdade
Vai serpenteando horizonte
Em dança de majestade
Que não constrói sua ponte.

Com cerol se envenena
Após desastres celestiais...
Observe bem a cena
Sob vinganças artificiais.

Não importam as cores
De outras pipas a voar;
Disfarçam-se em rubores,
Pois precisam enganar.

Como, então, acreditar?

Ainda restam os caçadores
Tão ávidos para conquistar
O espaço de clamores
Quando a pipa, em suas mãos, reinar.

Reina efêmera.

Dispensa-se o vencedor
Que deseja produzir
Um modelo inovador
Em prol da fama a seduzir.

Não é um prêmio.
Não é uma escada.
Só quer ser presente.

E como tudo recebido,
Afeiçoa-se pelo que é:
Não vale o esforço medido
Se não aceita o que quer.

Uma pipa para libertar.
Um vento para empinar.
E um caçador para cuidar...
Sem modificar.

Deixa que o céu a descubra.